Paranoid Park

09/03/2010

Paranoid Park, 2007 – Direção: Gus Van Sant – Elenco: Gabe Nevins,Daniel Liu,Jake Miller.

Já é complicado pra eu comentar sobre Paranoid Park justamente por em momento algum contestar o ponto de vista (ou tese) de Van Sant, e sempre aceitá-lo como forma de visão unilateral que de uma forma imaginária acaba me fazendo crer que é universal, o que pode ou não ser. O que importa é que como indivíduo e jovem aceito a visão de Van Sant como sendo única e não a contesto, o que por si só pode influenciar em meu julgamento sobre a sua obra, mas que de qualquer forma, falarei como um jovem que acredito estar contido nesse imaginário dos “silêncios” em que Van Sant inclui seu personagem, Alex, e o trabalha de forma complexa e inteligente.

E essa forma inteligente a que me refiro é justamente pelo fato do diretor usar o áudio e o visual enquanto complementos e meios, para chegar a uma narrativa profunda e cheia de camadas em relação ao jovem Alex. Ao começo do filme temos imagens e textos que não fazem sentido algum, e ao decorrer da película mais imagens e sons aleatórios nos cercam apenas para retratar um Alex ainda muito confuso com algo (só sabemos que há,de fato, “algo” por ler “paranoid park” no diário de Alex e sabermos que ali acontecera qualquer coisa que afetara Alex). E em meio a essa narrativa “não-linear”, Gus Van Sant não tenta jogá-la como uma tentativa fílmica original, mas sim como um meio para causar um certo efeito que relaciona-se a todos os aspectos discutidos sobre a persona Alex.

E tudo faz sentido, após a narrativa se organizar de forma mais normal e simples e nos revelar os acontecimentos “não mencionados” por Alex a ele mesmo. E daí toda narrativa “não-linear” do começo da obra de Van Sant faz um sentido tremendo, quando mostra Alex contando uma história a si mesmo e mesmo assim não sendo honesto. Nós somos apenas curiosos que querem ver a vida alheia, nesse caso a de Alex,e por isso Van Sant em toda sua decupagem e posicionamentos de câmera remete tudo isso, no momento em que não temos em quase nenhum momento enquadramentos convencionais ou que nos tornam, por parte do visual, parte da história. E tudo isso conta, por fazer uma linguagem fílmica independente e que nada mais é do que necessária e muito inteligente para que a história de Alex flua e tenha o efeito que Van Sant quer.

E como curiosos sobre a vida de Alex, nem Voyers nós somos, somos apenas inseridos que nem foram chamado a festa, ainda mais porque Alex nunca quer que descubram seu segredo, ainda mais quando nem ele quer lembrar do próprio. E todas aquela narrativa disforme citada ai em cima quer mostrar isso aos curiosos inseridos, quer mostrar que o jovem fez algo de que nem ele mesmo está pronto para admitir, que mostrar que ele esconde algo até dele mesmo, quer mostrar que ele não sabia o que estava fazendo, quer mostrar que após o ocorrido ele continua a mesma pessoa, só que com um segredo, algo obscuro. E após a narrativa começar a assumir uma forma totalmente linear e nos apresentar ao acontecimento que fez Alex começar a escrever um diário sobre nós podemos até entender o garoto e chegar a concordar com ele, ou melhor, a se espelhar nele.

A história pode chegar a um ponto em girar em torno ao park que a intitula, mas ele nunca é o centro, por vezes chega a ser um personagem, mas nunca o centro. O centro é a confusão de um jovem e a honestidade com que o diretor o retrata, não só mostrando como a juventude é confusa, mas como essa fase pode sofrer por não conseguir se abrir com ninguém, por não conseguir falar com a própria mãe , ou por não conseguir contar os erros que cometeu com medo de que riam ou não o compreendam. Van Sant ainda com toda sua técnica impecável, obscurece os mais velhos, os embaça, os deixa sempre em segundo plano, eles não fazem parte daquilo, mas se afirmam dentro do mesmo ambiente e mesmo não sendo vistos como parte importante da trama, eles sempre querem ajudar os jovens confusos e que não estão preparados para aceitar a “mãozinha” oferecida.

No final,mesmo com ajuda de uma amiga, Alex parece não aliviar do fardo de seu ato, e parece querer estourar de uma vez por todas e não voltar mais, não temos demonstrações de arrependimentos em nenhum momento, mas sempre de culpa, e quanto mais culpa, mais obscuro o quadro se torna e menos barulho toma conta. No momento do ato que faz toda a vida de Alex perder sentido o som não existe, apenas a visão, nada ali “vive”, apenas o rosto de Alex ao ver o que fez e uma suplicia ainda que penosa. O jovem acaba sendo eu ou qualquer outro jovem que quebra um vaso na casa de um amigo, ou rasga a calça sem querer no meio de um esporte, ou não passa com “10” no final do bimestre, ele se torna um ser penoso e com vergonha das pessoas que o acompanham, vergonha do que todas acham, vergonha do que pode acontecer, vergonha de tudo e por isso toda vez que abre a boca pra falar de qualquer um desses ocorridos ou tem uma desculpa fula ou uma mentira pronta. E ao fim, Van Sant ainda mostra com beleza todo o mundo de Alex, com skates e momentos “fora” do tempo com pura beleza e mostra para todos os curiosos que não podemos ver pra sempre a vida dessa garoto confuso e que devemos parar por ali, nós apenas tivemos essa oportunidade única de assistir a um certo momento de sua vida, e tudo não fará mais ou menos sentido para nós se continuássemos a ver mais ou se descobrirmos se Alex toma a decisão certa ou não, até porque não somos deuses ou Padres de Alex, apenas fuxiqueiros que deram a sorte de refletir sobre o silêncio e suas consequências.

5/5

de Igor Frederico